ENTENDA O QUE É O ARCABOUÇO FISCAL
Integrantes do governo apresentaram em março um novo conjunto de regras e medidas fiscais que deverão controlar os gastos e receitas no Brasil. O novo arcabouço fiscal busca garantir previsibilidade para as contas públicas brasileiras e, dessa forma, permitir ao governo financiar serviços públicos enquanto tenta manter a dívida do país sob controle.
O instrumento irá substituir o teto de gastos, criado em 2016 durante o governo Temer, que limitava o crescimento das despesas ao ano anterior, corrigido apenas pela inflação. A proposta do governo Lula prevê um limite de gastos mais flexível do que a regra anterior, condicionando a uma meta de resultado primário.
Dentre as principais premissas do novo conjunto de regras fiscais, estão:
- Promessa de zerar déficit primário em 2024, com superávit de 0,5% do PIB em 2025 e 1% em 2026;
- Limite de crescimento da despesa primária a 70% da variação da receita dos 12 meses anteriores;
- Previsão de um piso e um teto para o crescimento da despesa primária, com intervalos entre 0,6% e 2,5% do PIB ao ano.
Entenda o arcabouço fiscal
O ponto central do novo arcabouço fiscal é capacidade de limitar as despesas do governo sem engessar demais a máquina pública, como os críticos acusavam o teto de gastos. Não à toa, no ano passado a Emenda Constitucional da Transição excluiu cerca de R$ 168 bilhões do antigo teto para que o governo pudesse gastar com Bolsa Família e investimentos em geral.
Por isso, do lado do controle de gastos, a nova regra fiscal prevê que as despesas só poderão crescer 70% da variação da receita dos últimos 12 meses. Por isso, caso o governo arrecade R$ 1 trilhão no período anual, poderia gastar até R$ 700 bilhões.
Para se moldar aos ciclos econômicos de alta e baixa da economia brasileira, o arcabouço prevê que a despesa não poderá crescer mais de 0,6% ao ano acima do IPCA (a inflação oficial do país) em épocas de contração do PIB (Produto Interno Bruto) e de 2,5% ao ano acima da inflação em períodos de crescimento da economia.
O piso mínimo de investimentos por parte do governo ficará em cerca de R$ 70 bilhões, sendo corrigido pelo IPCA nos próximos anos.
A nova regra busca ainda evitar um descontrole fiscal. Para isso, deverá punir o governo se houver um gasto superior a 70% da receita. Nesse caso, no ano seguinte o limite deverá ser reduzido para 50% do crescimento.
Além disso, semelhante às metas de inflação do Banco Central, a nova regra fiscal deverá prever um intervalo de 0,25%, para mais ou para menos, em relação ao resultado primário. Atualmente, o governo deve estipular um valor exato na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Há exceções apenas em gastos já previstos na Constituição e que, por isso, não podem ser regulamentados por lei complementar. O Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), que distribui recursos à educação básica, e os gastos para bancar o piso nacional da enfermagem, por exemplo, não deverão sofrer com a limitação de gastos.
Com o novo arcabouço, o governo Lula espera melhorar as contas públicas do Brasil, que estão no vermelho. Em 2023, a previsão é que o déficit primário seja de 0,5% do PIB. Já para o ano que vem, o governo busca zerar o déficit para que, em 2025 e 2026, o superávit seja de 0,5% e 1%, respectivamente.
De acordo com o Ministério da Fazenda, ao controlar os gastos públicos e reduzir o déficit primário, o governo pode criar um ambiente econômico mais favorável para o investimento privado, contribuindo para o crescimento do país.
Fonte: jornal JOTA